quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Contos de fim de ano - O balão

Me lembro de quando eu estava junto aos outros.Enfileirados em ordem de tamanho.Cada um de uma cor.Eu era o azul.Os mais bonitos iam primeiro.Hoje o de formato de sol foi o sortudo.Logo ao chegar já estava de saída.Eu estava certo de que também chegaria a minha vez de partir.
Tínhamos que  ficar todos os dias comportados,sem nos mexer.Às vezes o vento me bagunçava por completo.E é claro que todos entendiam.Cada dia que passava eu ficava mais sozinho.Eram inúmeras despedidas.Talvez eu também não partia porque eu não era como os outros.Eu não me importava com essas coisas.Ser “diferente” não me incomodava,incomodava quem estava ao meu redor.Não se afastavam de mim porque assim como eu,estavam presos no carrinho.Aposto que se tivessem vontade própria,se afastariam na primeira oportunidade.E a fila enorme e alinhada ia ficando pequena e desorganizada.Pequena,pois os que partiam não voltavam para serem enchidos novamente e não chegavam novos.O tempo passou e os que restaram estavam ficando esquecidos.Mas isso não durou muito.Quando as coisas não vão bem sempre nos mudamos para outro local.Nosso carrinho agora estava no centro da cidade.Foi uma técnica inteligente,pois crianças que passavam pelo calçadão imploravam para os Pais comprarem todos os dias um balão.Ou até mesmo Homens que voltavam do serviço compravam balões  vermelhos para acompanhar o buquê de rosas e os bombons para a esposa.
Mesmo com o ritmo acelerado não chegavam novos.Talvez o carrinho dos balões estava se aposentando - ou seria o vendedor?Dentro de uma semana restavam poucos.Eu ainda continuava ali,esperando a minha vez.Os mais cansados de esperar simplesmente estouravam.Talvez seria isso o que todos parecidos comigo fazem.Chamaria isso de vida em ciclos.Morremos de forma rápida e indolor.Quanto mais forte o barulho,maior a sua coragem.Até o momento  eu não sabia o tamanho da minha coragem.Eu só queria que o meu barulho fosse comparado a um trovão.
Daquela multidão enfileirada eu fui o último que restou.Eu estava pensando no que fazer,quando sinto alguém me desamarrando. “Obrigado por tudo!Pelo início,meio e fim.Nada mais justo do que sentir a sua liberdade tão desejada” foi o que um homem de cabelos e barba branca disse para mim.Uma ventania forte me levou para cima.Logo logo cairia uma chuva.Enquanto não caia,consegui avistar todo um mundo que eu não fazia ideia que existia.As coisas vistas de um outro ângulo se tornavam diferentes,mais bonitas,de certa maneira.Aos poucos eu ia chamando a atenção.Pessoas na correria do dia a dia paravam e olhavam para algo azul que passeava pelo céu.A chuva começou e eu não parava de subir.Aos poucos eu ia ficando vazio.Seria o mesmo vazio que tantas pessoas sentem todos os dias?Provavelmente.É como algo te tirando tudo e nada,ao mesmo tempo.Decidi ver o tamanho da minha coragem.Antes de estourar,surgiu um raio.Logo em seguida o estouro.Após,um barulho altíssimo.Parti sendo diferente dos outros e também não sendo muito aceito.Nada disso importa para mim.Diferente ou não eu fui simplesmente eu mesmo.A única coisa que eu queria saber é se aquele barulho foi a minha coragem de encarar as coisas do meu jeito ou o trovão que chegou logo em seguida.Talvez os dois tenham se tornado um só.Um dia descubro.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Normalidade, será?

  Terça-feira, exatamente às 03:25 lá estava eu na sala,tomando meu café e assistindo um filme de ação que estava passando na TV. O tempo passava e nada do sono vir me visitar. Abri a janela e que bela lua estava me aguardando lá fora. Bastava seu brilho para iluminar toda a rua de sobrados antigos. Pensei em tirar uma foto,mas lembrei que a câmera estava no conserto. Abri a porta e sentei na calçada, já que em casa estava um calor dos infernos.
 Sem se preocupar com nada, permaneci uns 5 minutos olhando tudo ao meu redor, coisas que em um dia normal eu não avistaria tão fácil assim. É quando percebo que a beleza de tudo está em pequenos detalhes do nosso dia, da nossa noite. Nuvens anunciam que logo chegaria a chuva. Entro em casa e tiro do meu guarda-roupa a velha e empoeirada máquina de escrever Remington.
  De repente, versos e mais versos de uma bela poesia vai se formando. E  a cada "trim" que sai da máquina, vou para mais uma linha em branco. E quando todas as folhas se esgotam, deparo com um grande livro de poesia de cordel. Um sorriso de orelha a orelha de forma em meu rosto. Guardo o livro na gaveta de meias, esperando o momento certo de publicá-los.
  Vou para a cama e fico olhando para aquele teto vazio. Agradeço por mais um dia e fecho os olhos. Mais um dia se passa,seguido de uma noite de insônia. Talvez hoje seja a mesma coisa, não sei, bem provável.

(Amanheci junto ao sol, que por sinal, está sempre belo)

sábado, 13 de dezembro de 2014

Contos de fim de ano - A cadeira de rodas de Jake

O que vou dizer aqui ficará só entre a gente,ok?Não que eu não confie nas outras pessoas.É que tenho um segredo que guardo desde pequeno.E também que quando se tem 12 anos,é difícil um adulto acreditar em você.
Bem,acho que devo começar falando quem eu sou: Me chamo Jake Vilhegas,tenho diversos posters  de artistas que já morreram há um tempão- Presente da mamãe- e gosto de esportes.Já representei meu país cinco vezes nas Olimpíadas.Ganhei medalha de ouro na natação,no judô,no salto com vara,no tênis de mesa e muitos outros nomes difíceis que não consigo pronunciar.Acho que o mais legal é ver como os atletas ficam abismados quando subo no pódio para pegar minha medalha e ouvir o hino do meu país.Ah,caso eu não tenha falado,sou russo.Não russo russo,mas russo.Nasci mesmo em Portugal,mas meu pai se apaixonou por uma linda russa,que anos mais tarde seria a minha mãe.Mas voltando aos esportes: essa é a minha vida de campeão olímpico. Ou a vida que eu queria ter.A verdade é que não sou um campeão,ou o cara que todos lutam para escolher primeiro na educação física.Sou cadeirante,por isso não participo de algumas atividade físicas.Todos me perguntam se eu ligo para isso.Sinceramente: Não. Quando eu era pequeno,papai me deu um presente que guardava um presente- o mesmo que irei te contar agora.Ele disse: Jake,como você está ficando um moço,seu presente de natal esse ano será especial.Papai chegou com uma caixa enorme.Abri e soltei um “CARAMBA” bem alto. Era uma cadeira de rodas pintada de vermelho e uns detalhes de fogo e desenho de caveira,nas rodas.Papai me ajudou a subir nela e sussurrou em meu ouvido: Jake,tenho um segredo para você.Essa cadeira é mágica,pode se transformar no que você quiser,basta pedir.
De primeira,não acreditei muito.Agradeci pelo presente e fui para fora.Como aonde moro quase sempre há neve,saí para ver o chão todo branco.Meu sonho sempre foi descer um monte de trenó.Por um momento,acreditei no que papai disse.Fechei os olhos e desejei que a cadeira se transformasse em um trenó.Após ter desejado,senti um frio na barriga e um vento gelado no meu rosto.Abri os olhos e quando vi,eu estava descendo um enorme monte em um trenó vermelho com desenhos de caveira.Simplesmente explodi de felicidade.Foi o melhor natal de todos.Muitas crianças estavam comemorando o natal com seus pais ou estavam se esquentando na frente da lareira.Eu estava subindo e descendo montes com minha cadeira-trenó.
A partir daquele dia,resolvi usar minha cadeira para ajudar também outras pessoas.Salvei Bob de uns garotos mais velhos com a minha cadeira-contra-surra-de-valentões.Salvei a Lietch  na aula de Ed. Física com a minha cadeira-protetora-contra-bolas-de-queimada. Eu até que gostava um pouco dela,mas aí já é outra história.Aos poucos,me tornei um herói.
E foram longos anos de glória,mas quando fiz meus 12 anos,a cadeira já não se transformava com tanta frequência.Pensei procurar o papai para ver se ele a arrumaria para mim.
-Sinto muito filho,não posso arrumá-la.A mágica está fraca e conforme se cresce ela fica gasta,assim como a bateria de celular.
Perguntei então qual era a mágica que fazia a cadeira se transformar em tudo o que eu quisesse.Ele me olhou no olho e disse,com a mão afagando meu cabelo: Sua imaginação.Foi quando eu me lembrei que até um garoto com uma cadeira de rodas mágica precisa crescer.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Carta de ânimo

Olho para o relógio,já passa das 23:00.Ainda estou no metrô,andando sem rumo.Dessa vez não quero ver as luzes da Paulista,nem a Catedral da Sé.Quero simplesmente um cantinho no vagão para escrever qualquer coisa para a minha pequena, nem que seja um "OLÁ". A cada parada, entra gente nova com mais uma história para ser contada. Acredito que esse é o legal da vida: O novo, o desconhecido. Faz a gente querer viver um dia a mais. E quando menos esperamos,vivemos o bastante para contar toda a nossa história em um vagão de metrô para um jovem que só quer escrever um pouco para a sua pequena. E a vida segue, assim como tudo, assim como nós seguimos.


(Pode me dar licença um minutinho...desço na Liberdade, que tanto procurei)