quarta-feira, 25 de novembro de 2015

i ÁR- VO – RE!

                    [
Um dia
A menina quis cantar
Uma simples melodia
Enquanto tomava seu chá

Olhou, parou, olhou, parou para a janela
Que linda era! Toda de Marfim!
Um dia
A menina viu seu amado passar

Deitou-se no chão da sala
TV ligada
Para conter uma enorme risada
Uma carta havia chegado
Linda caligrafia
Assinada e perfumada pelo seu amor
Um dia

O encontro estava marcado
Endereço de nome esquisito
Vestido florido, batom e cabelo penteado
Uma última olhada para casa
Ela saiu, cantando uma simples melodia
Sem chá

Olhou, parou, olhou, parou para a multidão
Não estariam sozinhos
Celular na mão, esperou e esperou
Recusou o algodão doce do vendedor
Recusou as juras de amor

Deitou-se no chão verde do bosque
Caíra na gargalhada
Rir para não chorar
Olhou, parou, olhou, parou para uma árvore
ÁR-VO-RE, por quê?
ÉS culpa sua, meu amor não chegar
Dormiu e virou raiz
                                                                                 ]   

sábado, 21 de novembro de 2015

Terça sem carne


Encontrei no ônibus uma garota cuja cor do cabelo era incomum. Digo incomum porque não são muitas garotas que encontro no ônibus que tenham essa cor em suas madeixas. Geralmente são três cores: Loiro, preto e ruivo- Ah, o ruivo!!

É claro que existem outras cores, não deixe ser enganado ou enganado pelo ingênuo homem que está escrevendo.

Verde me lembra de natureza, minha cor preferida e fruta com gosto marrento. Nunca essa cor lembraria cabelo. Pois é. Já estou a 30 minutos no segundo ônibus que é rotina para mim e fiz questão de adicionar CABELO às minhas lembranças. Como fui idiota por não ter pensado desta maneira. Os trabalhos andam me ocupando de tal maneira que estou começando a ver o mundo com olhos mortais. Um suicídio para quem escreve.

Depois do fato ocorrido e da minha desatenção, voltei a perceber as coisas. A mulher ao meu lado tem cerca de 44 anos e suas roupas exalam um forte cheiro de cigarro. Seus dentes são branquíssimos para alguém que fuma. Concluo que ela possui um marido que é fumante compulsivo ou ela passa pela Brigadeiro de manhãzinha. As pessoas de lá parecem chaminés ambulantes, fruto da Revolução Industrial, talvez. O que é certo é que se eu encontrasse essa mesma mulher ontem, tamparia meu nariz e a julgaria como uma fumante que usa o mesmo vestido decotado para fumar.

Logo mais desço na Alcântara, lugar costumeiro para a minha pessoa. Fui convidado para ir a um restaurante vegano. Sem dúvidas não recusei. Terça-Feira expulso carne do meu prato. Melhor assim, falar de um dia sem carne ao invés de cabelos. Faz jus ao título.

 

( Logo mais recomendarei os pratos do restaurante )

( Será que lá tem alguém de cabelo verde? )

( Desculpe! )

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mãos de malabares


Ele segue somente a duas cores: verde e vermelho. O amarelo para ele não importa. É a preparação para o seu pequenino-mais-que-minúsculo espetáculo.

Confesso que não sei a quanto tempo a cidade está recepcionando artistas. Não são poucos não. Parei de ler meu jornal por cinco minutos no ônibus e encontrei uma dúzia deles, mas nenhum igual àquele garoto. O seu nome, ninguém sabe. Eles o chamam de Docinho sabe-se lá por que. Talvez seja porque ele sempre abre uma bala de Cosme e Damião que ganhou um saco cheio delas em um daqueles centros espíritas. Nunca fui, mas respeito como qualquer outra igreja.

Concluo que não chamam ele de Docinho por conta das balas de Cosme e Damião. Um dos outros artistas da cidade me contou que é por conta da diabetes, mas ele é muito novo para esse privilégio. Nem tem idade para consultar o clínico geral. Amanhã eu desço um ponto antes para ele mesmo me contar. Aproveitarei a transição das duas cores verde-vermelho, afinal, não se pode interromper a arte.

Deitado na cama, ponta dos dedos formigando, deitado de bruços, barba cobrindo quase todo o meu rosto. Era assim que a minha pessoa se encontrava. Procurei incenso para deixar queimando na sala. Mesmo não tendo religião, abro a minha humilde casa para alguns costumes hindu. O sono foi sucinto. Pareceu que nem viera. É uma noite para se deitar, piscar uma vez e acordar atrasado para o serviço e ter que dividir um cubículo de espaço no 104TRO.

O dia passou normal. As mesmas pessoas, os mesmos objetos, as mesmas pessoas que valem menos que objetos, o mesmo tudo seguido de um profundo nada. No fim da tarde, nem parei para tomar o Cappuccino que é rotina nas minhas tardes. Corri para pegar o 802TRO que estava pronto para sair do terminal. Sentei próximo à janela. Por um instante pensei ter visto um rosto familiar, mas deve ter sido o cansaço tentando se divertir com a minha cara. Vinte minutos depois apertei o botão que acende a placa PARADA SOLICITADA. Como prometido, desci um ponto antes do de costume.

Andei cerca de um quarteirão. Olhei ao redor, ainda esbaforido, até que encontrei o garoto chamado Docinho. Ele estava onde sempre esteve: nas ruas, mostrando a todos o que melhor sabia fazer. Suas mãos de malabares faziam mágicas. Acompanhei tudo de longe, do outro lado da rua, para não desconcentrá-lo. Sentei em uma escada de concreto, como alguém que vai a uma apresentação no teatro. Observei cada detalhe. Quando o sinal fechava, ele corria para pegar seus instrumentos de trabalho. Com gasolina e um fósforo riscado, acendia algumas hastes que lançava para o ar, tentando impressionar ainda mais as pessoas dentro dos automóveis. Era um show rápido e sempre o mesmo, mas ele o fazia com o maior sorriso no rosto. Depois de apresentar, corria de carro em carro. Alguns davam moedas, outros mandavam ir para a escola, outros fechavam as janelas para que o menino de roupas esfarrapadas não incomodasse.

Fiquei o restante da tarde apreciando aquele espetáculo. Quando eram 18h, Docinho começou a recolher suas coisas e ir para casa, se é que ele tinha uma. Pensei em ir falar com aquele garoto. Perguntar por que chamavam ele daquele nome.

Quando eu estava me aproximando, o garoto parou para conversar com uma mulher que o aguardava na esquina. Também não aparentava ter uma boa condição econômica. Ela estendeu a mão e o garoto entregou a ela tudo o que havia conseguido. Deveria ser a mãe dele. Ela parou para contar o dinheiro e depois voltou o olhar para Docinho. Um olhar de raiva. Na rua mesmo, a mulher começou a espancar o garoto, dizendo que ele deveria ganhar mais dinheiro. Depois da surra, a mulher saiu, deixando seu filho todo ensanguentado no chão. Tentei ajudar, mas tudo aquilo tinha sido um choque tremendo. Foi quando entendi o porquê dele ser chamado de Docinho. Seu apelido era a única coisa em sua vida que não era amarga.

Chamei o garoto para tomar um café, mas ele recusou. Fui para a padaria e pedi dois expressos, caso ele aparecesse. Não apareceu.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O suicídio de Marcela


Ninguém ficou sabendo, muito menos eu. Um dia, tudo está uma monotonia. Noutro dia, uma carta bate silenciosamente a porta de meu apartamento. Uma carta muito mal elaborada, selo de revista de sábado, fita toda torta, fazendo com que qualquer um pudesse ler o que estava escrito dentro dela. Para a sorte de quem escreveu, a caligrafia impossibilitou este ato. Abri cautelosamente a parte que ainda estava fechada. Coloquei a xícara de café na mesinha da sala, torcendo para que aquele líquido preto não esfriasse rapidamente. De frio já não basta algumas pessoas.

De tantas histórias que me enviavam por correio, aquela foi a que causou uma forte insônia em mim. Cada parágrafo parecia desaparecer e reaparecer em meu consciente, inconsciente, psique e outros nomes que fingi aprender na faculdade de Psicologia. Pensando bem, nem minhas antigas consultas estou dando. O consultório no andar de baixo permanece igual a minha pessoa: vazio e empoeirado. Nenhuma daquelas histórias fizeram com que eu algum dia reabra aquela espelunca, exceto a última que recebi. Uma menina de cabelos curtíssimos, fumante, anorexa, olheiras no lugar dos olhos escreveu uma carta pedindo que alguém a ouvisse. Uma menina chamada Marcela.

Desci até o meu consultório para ver como estavam as coisas. Acertei sobre o modo como estavam. No chão, pilhas e pilhas de pedidos de ajuda nunca atendidos. Envelopes e selos de todos os tipos. Pensei em ler todas aquelas cartas que um dia foram jogadas em um consultório para que nunca fossem lidas, mas demoraria cerca de anos para que todas de fato fossem lidas. Engraçado, como podem existir pessoas tão idiotas por acreditarem que uma pessoa filha da puta pode resolver com um diálogo e hora marcada. Se pelo menos eu soubesse como se sentem.

Saí com a mesma roupa de dormir para a rua. Na mão, a xícara de café que esfriou. No bolso, a carta de Marcela. Seria impossível encontrar essa mulher em uma cidade tão grande como São Paulo. Para a minha sorte, parte da carta continha uma série de passos para chegar até ela. Eram cerca de três passos e um extra caso mesmo assim eu não a encontrasse.

-Primeiro passo: procurar pelo coelho de chocolate

Um simples endereço levou-me até um bar na Vila Guilherme. Local não muito agradável, mal frequentado. A placa dizia o nome do bar. Rainha de copas. Uma última palavra com a consciência para saber se valia a pena entrar naquele muquifo por causa de uma menina chamada Marcela. Entrei. A visão não foi a melhor que tive. Corpos caídos. Corpos sem vida e abertos. Não gritei. Ver cérebros na faculdade não era muito diferente do que corpos fétidos. Caminhei até o balcão e encontrei o suposto dono do bar, morto, com um coelho de chocolate pela metade na mão. Que modo mais idiota de morrer. Sua alma deveria estar por aí, zombeteando e lamentando-se por não ter morrido com um tiro no peito. Concentrei minha atenção para o que restava do primeiro passo. Caso tenha encontrado o coelho de chocolate, você já pode ir para o segundo passo.

- Segundo passo:  falar com o estuprador do Theatro Municipal.

Não demorou muito para chegar à República.  As ruas com o cheiro dos moradores de rua. Barracos sobre barracos. Olhos que olhavam com desejo pelo meu corpo. Pelos arredores, pessoas sendo esfaqueadas e roubadas. Um dia normal no centro de São Paulo. Fico de frente para o Theatro Municipal. Era noite de espetáculo. Como uma presa, lanço-me para os leões. Tiro a roupa, esperando pelo conhecido estuprador, que não chega. Sobre o meu corpo, somente estupradores amadores, nada de profissionalismo. Visto-me e vou para as costas do Theatro. No chão, repousa um homem de aproximadamente 43 anos. Estava gelado, como os homens do bar. Na boca, seu instrumento de prazer. Corpo aberto para roedores e vermes fazerem um banquete, Desdobro a carta, que manda eu prosseguir para o terceiro passo.

-Terceiro passo: falar com o farmacêutico da Rua Voluntários da Pátria.

Não foi difícil sair da República e ir até Santana. O metrô ajudou. Cortei caminho pela Darzan, até chegar ao endereço. A farmácia estava fechada, mas um bilhete na parede dizia para entrar pelas portas do fundo. Contornei a farmácia, até encontrar uma pequena porta de acesso aberta. Entrei sem bater, não era necessário. As enormes prateleiras de medicamentos não me assustavam. Segui caminho até os fundos. Era possível ver a sombra de alguém que provavelmente deveria estar me esperando. Aproximei-me e vi a silhueta de um homem, sentado em uma cadeira de plástico. Próximo a ele, o chão estava pintado com sangue. Eu estava frente a um homem com espumas na boca de tanto medicamento ingerido e corpo aberto para mostrar o que acontecia quando alguém morre de overdose. Os passos acabavam e nada da menina Marcela. Perto dos joelhos do farmacêutico morto, um bilhete escrito com sangue. Um quarto e último passo.

-Quarto passo: ler o bilhete escrito no espelho do quarto 77 do Ed. Palace.

Peguei o ônibus que tenho costume. O mesmo motorista de sempre abriu a porta para mim. Desci no mesmo ponto que tenho costume. Caminhei pela mesma rua de sempre. Cinco minutos de caminhada. Estava de frente com o Ed. Palace. O porteiro foi gentil como sempre e me entregou mais cartas, que joguei em um vaso de flores de plástico. Subi até o segundo andar, andei até achar o número 77. Olhei para o número na minha chave de casa. Era o mesmo. Próximo ao banheiro, um antigo e enorme espelho. Um breve recado. Atire em quem assassinou todas aquelas pessoas, pessoas que com palavras e órgãos sexuais foram me assassinando aos poucos. Faça isso e você saberá quem sou.

No chão, repousava uma arma. Com o gatilho solto, atirei em meu próprio peito. Antes de cair, vi no espelho a imagem de uma menina de cabelos curtíssimos, fumante, anorexa, olheiras no lugar dos olhos, que acabara de atirar no próprio peito, suicidando-se. Eu era a menina Marcela.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Nova integrante


Há aqueles que olhavam para aquele garoto com camisa de banda carregar algo na mão direita. Não era uma garrafa de refrigerante, como pensou uma senhora que subia a Timóteo Penteado. Não era um celular de última geração, como pensou um homem que provavelmente pretendia roubar aquele que estivesse marcando bobeira. Não era nada que se passava na cabeça de qualquer pessoa.

Há aqueles que conseguiram de fato ver o que o garoto carregava na mão direita de forma cuidadosa, só não lembravam o nome. A mente humana possui um sério problema em lembrar coisas, principalmente se essas mesmas coisas não são celulares de última geração ou qualquer outro lixo tecnológico. Minha função aqui não é ser crítico. Não dessa vez. Só quero contar sobre um garoto com camisa de banda que carregava um cacto na mão direita. Isso mesmo, um cacto. Pequeno ainda, embalado com um plástico vermelho que já estava todo rasgado por conta dos espinhos de infância.

Há quem diga que não é possível alguém se contentar com pouco. Aquele garoto conseguia. Tinha planejado uma história completa com aquela planta. Espero que seja uma planta, ou que não tenha um nome diferente. REINO PLANTAE. XERÓFITAS. De cheirosa nada possui, presumo. Voltando para o contentamento daquele garoto: sim, era possível. Para os que olhavam por fora, era mais um maluco da cidade. Chego a conclusão de que em todo esse meu tempo vivo nunca vi alguém de fato normal, então por que todos não fazem como aquele garoto e caminha segurando um pequeno cacto com a mão direita enquanto vestem uma camisa de banda?

Há aqueles que afirmam de pés juntos que nunca viram esse garoto na cidade, andando com um estranho objeto na mão direita. Também há aqueles que ao entrarem no ônibus lotado, em plena Terça-Feira, fofocam que o nível de maluquice do garoto ultrapassou todos os limites do mundo, a ponto de dar um nome para um cacto, indo até o Cartório registrá-lo. Há aqueles que dizem que o nome escolhido foi Clarice. Eu sou uma dessas pessoas que afirmam que o nome do cacto que o garoto leva para todo canto na mão direita chama-se Clarice. É um nome simples e muito bonito. E ele de fato adora esse nome, assim como todas as pessoas que encontrei na cidade que também carregam um pequeno cacto na mão direita, usando uma camisa de banda.

( Cactos devem ser regados uma vez na semana )

                                     ( Apenas uma vez )                   

( E eles também podem dar flores )

( Uma perfeita combinação de beleza e brutalidade )
            ( Flores em meio a espinhos )

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Carta para um poste de luz

Oh, senhor! Peço um pouco de luz, para a cabeça voltar a controlar e o coração parar de mandar.
As ruas cheias da Augusta são minha única companhia. Abandonei de vez aquela prosa com excesso de belezas e nesse exato momento tomo um café com a prosa real, estruturada para ser um espelho dessa sociedade falha, e acendo o décimo terceiro charuto do dia.
Não quero ser apenas aquele que é ouvido. Quero ouvir palavras que tocam bem na cicatriz que continua aberta. Quero ser o ouvinte. Mas nada muda. Continuo com as mesmas lamentações e você sempre ouvindo atentamente cada coisa que um homem de 37 anos lamenta-se não ter feito ou vivido.
E as outras cartas que te escrevi continuam em suas mãos, presas com fita durex da mais barata que encontrei na papelaria de casa. Casa, uma senhora que há tempos não visito, por isso não ligue se eu estiver cheirando mal pra cacete. Pensei em voltar, mas algo me impede. Algo que possui nome, RG, CPF, comprovante de residência, tristezas, alegrias.
Passar as noites em um albergue até que não é tão ruim. Lá é lugar para qualquer um que queira algum dia ser livre ou não tenha outra opção. Esta última coisa foi o meu caso. O frio da madrugada é mortífero. Sobe pelos furos não remendados da única roupa que tenho. Para a minha sorte e a de todos, sempre tem alguém com uma barrigudinha para esquentar o corpo e para dividir com os amigos. Não sou chegado a álcool, mas essa é a consequência por novamente ter ouvido aquela porcaria que bombeia sangue.
A tinta da caneta que achei na rua e o pedaço de saco de pão que uso para escrever estão acabando.
Dia desses, indo te encontrar, vi que havia respondido minhas cartas. Diversas respostas na verdade, com letras femininas, masculinas, marcas de batom, cinzas de cigarro.
Fico feliz por haver alguém se importando comigo. Minha próxima carta talvez demorará, mas espero que você não se incomode de ler e responder mais uma.
Acredite, você é o único que se importa comigo.

( Parei de fumar, sinal de que não tenho dinheiro )

( Parei com quase tudo )

( Menos escrever )

( Isso jamais )

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Nossa estrada



O ar e a vegetação não deixam enganar: não estou na capital. As placas me orientam 7 km até Itu. Tudo isso para reviver aquele amor de inverno. Paro para pagar o pedágio. A atendente, uma tal de Cláudia nota a felicidade estampada em meu rosto.

- Bom dia, senhor. É raro vermos um sorriso por aqui – disse a atendente, enquanto entrego os R$5,60 de pedágio.

- Estou indo reencontrar um amor. Prazer, me chamo Júlio. Até logo – me despedi com um breve aceno

- Até logo! Estarei torcendo por você.

A cancela subiu e continuei meu rumo. No caminho, um túnel chegava. Quando entrei nele, uma vaga lembrança rodeou minha cabeça. Sexta-Feira, julho de 2007. Foi quando, junto com a minha música preferida, eu a beijei. As luzes do túnel refletiam todo aquele sentimento. Não havia puder nem tempo para nos atrapalhar.

Saio do túnel. O sol volta a iluminar minha face. Já estou quase chegando para rever Cidinha. Aparecida Maria dos Anjos. A Cidinha de Itu. Na época em que eu morava lá no interior também, já esbarrei com ela na cidade, só não sabia quem era.

Estou a 4 km de Itu. É melhor este GPS quem comprei estar certo. 2 km, ainda é meio-dia. Dá tempo de comer em um posto. Volto para o carro e antes de partir tiro do rádio e coloco um CD do Camisa de Vênus. Ajeito o retrovisor. Saio com tanta pressa que esqueço de dar uns trocar para o menino que cuidava dos carros enquanto empinava sua pipa com as cores do Brasil.

Enfim chego. Passo pelo centro e novo-centro de Itu. Muita coisa mudou desde que fui para São Paulo, mas algo continuava a mesma coisa: o brechó do meu tio Túlio. Estava do jeito que eu me lembrava: Uma placa de madeira toda comida pelos cupins e dentro do brechó então, uma montanha de coisas. O cumprimento com um longo abraço, seguido de uma pergunta óbvia:

- Cadê a Cidinha?

-  Olha, Julinho, já faz um bom tempo que não vejo essa menina. Passa na casa dela.

- É isso que vou fazer – respondi sem aquele sotaque do interior.

Peguei o carro e parti. A Cidinha morava na rua 15 de Maio, próxima do centro. Chegando lá, encontro seu irmão mais novo. “Poxa, como ele cresceu... ou será eu que envelheci?”. Bato palma e o irmão que de mais novo já não tem nada, me recepciona. Então entro e cumprimento dona Maria, mãe da Cidinha. Ela me conta que faz um tempo que ela havia se mudado para Salto, uma cidade não muito longe de Itu. Peguei o endereço e sai imediatamente. Tiro o CD do Camisa de Vênus e coloco um do Nando Reis.

Chego a Salto e encontro a casa. Bato palma e quem me atende é um senhor de uns 70 anos. Ele conta que faz um tempo que uma moça morava ali decidiu ir para Valinhos. Mais uma vez peço o endereço e saio. Não troco de CD.

Chego a Valinhos quase a noite. Encontro a casa. Não bato palma, acho uma campainha. Uma moça vem me atender, mas não é Cidinha; Era uma amiga minha da escola.

- Ana!

- Julinho!

Ela me convida para entrar e contar sobre Cidinha.

- Você sabe como ela é, Julinho, nunca gostou de se sentir presa. Descobri que você estava em São Paulo e contei à Cidinha. De cara ela começou a fazer as malas e disse que ia te rever a qualquer custo.

- E quando ela partiu?

- Faz uns três dias.  Ela deveria estar te procurando por todos os cantos.

- Ai meu Deus, preciso ir logo

-  Mas já está escuro!

- Não importa, vou correndo.

Nem sei como fiz isso, mas quando percebi já estava dentro do carro. Acelerei o mais rápido que pude. Em menos de dez minutos eu já estava prestes a entrar no túnel, aquele da Sexta-Feira de julho de 2007. Foi quando algo aconteceu. Enquanto eu entrava no túnel, outro carro entrou, enquanto eu ia abrindo a janela do carro e colocando para fora, lembrando todo aquele momento, a pessoa do outro carro também fez isso. Nossas luzes se chocaram. Meu rosto foi iluminado e o da outra pessoa também.

Atrás daquele volante, uma garota, cabelos escorridos sendo bagunçados pelo vento, olhos castanhos, óculos de grau. Parecia... não pode ser. Não! De modo algum. E toda essa cena durou minutos. Saio do túnel e o outro carro também. Fecho o vidro e a garota do outro carro também.

... Mas e se for ela? Não que eu esteja enlouquecendo, mas e se por uma fração de segundos for ela?

( Não dei um trocado para o menino que estava empinando pipa e cuidando dos carros)


(... Na próxima lembrarei )


( Chego em São Paulo... meu nariz já está ardendo por causa da poluição )


( Cidinha não está mais em SP )


                 ( ... Voltou para casa  )


PS: recebi uma carta que ela deixou aqui em casa, que dizia...

quarta-feira, 6 de maio de 2015

06/05/2015


    Segunda-feira sem café... Mãos presas ao volante, rádio ligado- está tocando a minha música, sempre a mesma. Aumento o volume e toda a cidade sabe que estou chegando, com mais histórias em papéis amassados pelo peso da minha Remington sobre eles. Hoje o trânsito está infernal, o que não era surpresa alguma na semana. Parado próximo a Paulista, coloco a cabeça para fora da janela do carro para xingar o motorista da frente- aquela mula. Sem perceber na hora, só depois, é que notei alguém passando na frente do meu carro. Passou assim, de repente, com passos longos em pernas bem curtas. Ela levava consigo uma bolsa e um guarda-chuva; na cabeça uma touquinha vermelha, escondendo rosto mas deixando à mostra os cabelos loiros na altura do ombro, que dançavam uma leve valsa com o vento frio. Foi questão de segundos, segundos que pareciam horas. Junto com esses segundos, lá se foi a briga com a mula da frente... lá se foi ela!
  Perdi o rumo. "Aonde é que eu estava indo mesmo?". Sem pensar duas vezes, saí da Alameda Santos e entrei na R. Pamplona- nome engraçado esse, seria o nome de alguém famoso que não está nos livros de história?-, virando à esquerda rumo ao MASP. Andei devagar, quase parando, tentando achá-la  entre os engravatados que só andam juntos, os hippies que fazem lindos colares, os artistas de rua que arrancavam sorrisos de quem parava para assistir, as pessoas que adoravam ficar olhando para aqueles enormes prédios. Rostos novos, pessoas novas. Que história interessante cada uma deveria ter? Ora, isso não importa no momento. Continuei focado na minha busca,  até finalmente encontrar. Continuava com seus passos longos e a mochila nas costas. Acelerei um pouco mais. Foi quando vi pela primeira vez aquele rosto. Tudo era perfeito: o jeito de olhar no relógio para ver se estava atrasada para sabe-se lá o que, os lábios comprimidos para emitir um leve assobio, os olhos que quase me fizeram atropelar uma senhora que passeava com o seu Pug. De repente, percebo que estou sendo observado por aqueles mesmos olhos. Retribuo o olhar, com vergonha. Ela deixa escapar um pequeno sorriso e entra em um prédio. Será que aquele sorriso foi  algum "eu volto já"? Ou um "me espere".
  Estacionei meu carro em uma vaga proibida e andei até o prédio. Fiquei sentado em um banco do ponto de ônibus que ficava bem na frente dele. Sem nervosismo, nem ansiedade, só aquela velha esperança. Meia hora havia se passado e nada. Duas mulheres já haviam me perguntado qual o ônibus que passava na Consolação. Não soube responder. Só esperar. Ela!
  Quase 17:00 e nada. Já tinha ficado amigo dos hippies e de um senhor que tocava saxofone. Porra, aquilo era incrível. Fui convidado para escrever poesias junto com um zé-ninguém, assim como eu. Não recusei, nem aceitei. Simplesmente sorri e voltei para a frente do prédio. Por um leve descuido, não percebo as pessoas saindo e para a minha surpresa ela também está. Tento atravessar a rua, mas o sinal abre para os milhares de carros passarem. Quando consigo atravessar já é tarde demais. Nem penso em pegar meu carro. Só corro, enquanto seguro um pedaço de papel amassado. São longos quarteirões. Coração quase saindo pela boca - seria meu sedentarismo ou o nervosismo?. Ela entra no metrô e em seguida venho, descendo rapidamente a escada rolante. Ela está entrando em um vagão, quando berro. A moça percebe e pede que eu seja rápido. Sem pensar duas vezes, entrego aquele papel que estava no meu bolso. Ela sorriu e entrou de volta no vagão sem ter perguntado o meu nome.
  Foi quase chegando em casa que percebo que entreguei o papel errado. Não era o meu telefone que estava com ela e sim um conto que eu havia escrito de manhã. Nunca saberei se ela gostou ou se me procurará. Ela não conseguiu o meu telefone, mas conseguiu os meus sentimentos. Isso já vale muito, eu acho. Hoje rezo para que aquela mesma moça passe novamente pela frente do meu carro, mas em vez de passar direto, que pare e diga que leu tudo o que estava escrito e que pela primeira vez pergunte meu nome.

  -Prazer, Matheus!

 - Prazer, Gabriela!

(Ontem pude vê-la, mas nos meus demorados sonhos)

  

quinta-feira, 30 de abril de 2015

O ônibus para casa

  Pessoas e mais pessoas à procura de chegar a um único destino: suas respectivas casas. No processo, multidões de desconhecidos ao meu redor. Rostos jamais vistos, de beleza e pecado distintos.
  Sentado de frente à porta do fundo do ônibus, cenas de cinema passam diante de meus olhos. O filme é nacional e o diretor é o povão. Tudo isso acontece em uma pequena telinha, de modo que somente eu havia comprado o ingresso.
  Rua, ponto de ônibus, rua, ponto de ônibus................................................................. Até o momento em que pausamos o filme com uma luz vermelha. Volto-me para dentro do ônibus. As pessoas, antes estranhas, já tornaram-se rostos conhecidos, banhados em um sono pesado, mas revigorador depois de mais um dia sobrevivendo na Terra.
  Chego ao meu destino. Desço e caminho cabisbaixo. Que tantas outras pessoas eu encontraria amanhã?Qual seria o nome do novo filme? Não sei, a única coisa que posso afirmar é que estarei novamente com um ingresso em mãos. Talvez algum dia eu pare de ser aquele que assiste e vire aquele que atua.
  Tudo é possível. Ainda resta-me um tempo de idas e vindas, mas algo me diz que coisa boa virá pela frente. É só uma questão de tempo. E tempo é o que não me falta!


( o que me falta então?)

30/04/2015

  Muitos a essa hora estariam loucos para chegarem em suas casas ou não enfrentarem o trânsito caótico que está lá fora. Cá estou eu, com um lanche do Subway e um refrigerante enorme. Sentado, à moda single, observo tudo ao meu redor. São pessoas, homens, mulheres e crianças. A cada segundo novos rostos, novas histórias, novas sensações. Enquanto todos torcem para botarem seus pés o mais rápido possível no sofá, eu não quero. Prefiro estar fora de casa, com o meu lanche, meu refri e a minha repetida playlist, tocando sempre Legião Urbana, O Teatro Mágico e às vezes- só às vezes mesmo- é que toca alguma música internacional que nunca sei cantar- acho que foi porque nunca tentei..
  Rostos felizes, rostos tristes. Bocas cheias, de lanches, de palavras nunca ditas. Bocas vazias, de lanches, de palavras que por nunca serem ditas foram engolidas- isso causa uma náusea e uma cefaleia dos diabos.
  Uma criança passa correndo. Termino o meu refri, esperando a última gota cair. Um casal começa uma DR. Limpo a boca com um guardanapo. Um amigo passa por mim  sem me notar. Amasso o embrulho do lanche, fingindo não vê-lo. Meu celular toca. Digo que já estou indo, quando na verdade só quero permanecer aqui, escrevendo.
  Há dias em que não sai nem um versinho, por mais pobre e singelo que seja. Hoje, é possível escrever um livro inteiro, enviar cartas para todos os meus amigos e ainda escrever umas para mim mesmo, que só poderão ser lidas daqui a 10 anos, no mesmo dia e lugar em que estou.
  Levanto, recolho minhas coisas e jogo o lixo do lanche. Coloco a cadeira no lugar, agradeço a Oxalá pelo dia de inspiração e parto, voltando à monótona e rotineira rotina. Talvez amanhã eu escute algo diferente...que tal Legião Urbana mais uma vez? O dia todo


Algumas rotinas devem voltar, como escrever...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Memórias de papel

 Quando toda a cidade havia reparado na repentina mudança eu ainda não sabia o que estava acontecendo.Era época de ventanias e todos os objetos leves dançavam pelo ar.Confesso que as lojas de chapéis lucravam muito.Só naquela semana o vento já havia me tirado dois.Por um motivo que ninguém sabia,as ruas estavam cheias de textos não assinados.Algumas pessoas-como eu- nem notaram aquelas folhas de caderno,cada uma de uma cor.Todos tinham o tema diferente.Pensei que aquilo não passava de uma brincadeira e que nos próximos dias tudo acabaria,mas para a minha surpresa,não acabou.
 Foi na volta do trabalho que vi uma cena surpreendente: Um garoto sentado em um banco da pracinha,escrevendo em um caderno todo azul-em algumas partes do caderno estavam coladas algumas figurinhas de futebol- e quando terminava de escrever arrancava a folha do caderno e jogava para o ar.Talvez aqueles textos jogados pelas ruas seriam dele.Ou talvez seria apenas uma coincidência.Fiquei ainda mais meia hora por lá e decidi ir embora.O garoto continuava escrevendo sem ter um limite.
 No dia seguinte,passei pela a mesma praça e percebi que ele não estava lá.Fui embora com a certeza de que aqueles textos não eram dele,foi quando eu o vi sentando em frente a um campinho de futebol.Pensei em me aproximar,mas como estava sempre escrevendo decidi não atrapalhar.Naquele momento tive a certeza de que todos aqueles textos eram obra daquele garoto de apenas 11 anos.Aquilo me deixava muito curioso,afinal,como um garoto de tão pouca idade conseguia criar histórias tão bem elaboradas.Escrevia não se importando  com nada,só queria terminar uma história para começar outra e espalhá-las,com a esperança de que alguém leia.E alguns cidadão leram.Amigos meus da firma me disseram que nunca alguém escreveu histórias tão simples,mas que são tão verdadeiras.Comprei um caderno novo para ele -azul com listras brancas-e um estojo completo.
 Fui à procura do garoto.Ele não estava na pracinha,nem sentado no campinho de futebol.Estaria olhando para uma loja de brinquedos e se imaginar lá dentro?Quem sabe até em um planalto,dando vida a suas obras?Infelizmente ele não estava em nenhum desses lugares.Estava escurecendo e nada dele.Onde estaria o menino que escreve de tudo e deixa suas memórias correrem soltas pelo ar?Encontrei um texto dele- acho que o vento me trouxe de presente- e me perguntei qual seria a sua motivação.Encontrei o garoto deitado na grama de um parque.Fiz a pergunta e ele não se ofendeu nem foi de falar muito,apenas disse? Olhe para cima.O céu estava muito azul e quase não havia nuvens-um mar em cima de nossas cabeças.Foi quando eu descobri a inspiração do garoto: Ver o que os outros não vêem - ou ver as coisas de um jeito diferente.
 Isso já faz um ano e hoje escrevo,mas não como aquele menino.Acho que tudo na vida é uma questão de como vemos as coisas.Felizmente,o garoto não conseguia enxergar a realidade,preso em suas memórias de papel.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Terça-Feira sem chá

Mais uma vez, na semana, estou encarando a minha velha máquina de escrever. Sobre o que contarei? Não sei... talvez sobre um dia normal, como hoje. Nada fora do normal, nem especial. O sol continua nos olhando, os carros continuam passando com seus vidros fechados, ninguém  me ligou querendo vender algo, pessoas andando pela rua com medo de não voltarem para casa. 
 Dou voltas pela cozinha, buscando um mínimo detalhe que me faça criar uma história. Meia hora rodando, nada. Só o que consegui foi a história de um saleiro que foi confundido com açúcar e foi atacado por formigas. Imagine essa história!
O prédio vizinho, como sempre, anda sempre em festa. Gritaria, comemorações. Que alegria para uma terça-feira. Muitos ainda estão tristes por causa de Segunda, mas eles não.
 Liguei o rádio o mudei por alguns instantes a estação. Passei de City Of Angels, Someday, Metamorfose Ambulante, até chegar em Mountain Sound. Aumentei o volume e deixei a música falar por si mesma. De repente, a casa tornou-se uma Infinita Highway e a cada nota tocada, uma forte vibração fazia meus pelos do braço se levantarem de tanto arrepio que eu sentia. Minutos se passaram e então... silêncio. A música tinha terminado. Abri os olhos e lá estava eu, sentado, encarando a minha velha Remington anos sessenta. Seria sonho tudo aquilo que até instantes havia acontecido? Não consegui formular uma resposta. 
Levantei e arrumei a cadeira, colocando-a em seu lugar. Peguei meu casaco e saí para trabalhar. O céu estava lindo, sem nenhuma nuvem. Uma imensidão azul.
 Corri meio quarteirão só para pegar o ônibus. Para minha sorte, estava vazio. Fui para o fundo e sentei próximo da janela. Olhando todos se movimentando, enquanto eu estava parado, pensei em inúmeras histórias para criar, mas muitas ao final da tarde eu já havia esquecido.
E é assim que começo minhas manhãs, desde que me conheço por gente... eu acho!

(Lembre-me de comprar chá no mercado, por favor)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Aonde iriam os restos de um dente-de-leão?

Assim como todas as crianças que brincam,imaginam,fazem acontecer,Cida era como elas,talvez com uma imaginação mais avançada ou apenas colocava mais verdades em suas histórias.Não citarei sua idade porque não há idade certa para começar e para terminar de imaginar-chame do que quiser,sonho,fantasia,etc.A coisa correta de se afirmar é que ela ainda estava no começo de tudo.Vinda de uma família de professores,adorava saraus,cordéis,muito mais coisas que ficaria meio impossível citar todas.Arriscava uns versinhos que quebravam o clima pesado em casa e sempre conseguia quebrar.Nos concursos da escola,sempre ficava em primeiro lugar.Sua estrofe-chamo isso de poesia completa-campeã foi:

"As asas se abrem para voar;
Os olhos refletem a alma,talvez para dar calma;
E porque um filho é uma tênue,eterno;
É ser algo;
Porque eu posso ser qualquer coisa;
E às vezes,qualquer coisa pode ser tudo;
Então prefiro ser o sonho em carne,e não chorar;
Afinal,ser forte não quer dizer:Não cair;
Ser forte quer dizer:Levantar;
Quer dizer, não desistir,ser grande,para si mesmo,não para os outros;
Porque no final não vai existir bem e mal,irmã ou irmão;"

É de surpreender com tamanha perfeição em palavras escritas por uma pequena garota.Usou por três anos as mesmas palavras e ganhou esses três anos o primeiro lugar.O desafio agora seria outro:Uma revista,ao ver o brilhante talento da garota,a convidou para escrever algo e publicar.Se demonstrasse potencial,seria tema da primeira página,algo como:Jovem escritora surpreende o mundo com suas palavras.Aceitou o desafio,mas não sabia por onde começar.Sobre o que escreveria?Algum romance curto?Um conto com cara de crônica?Um mundo em poucas linhas?Foi quando tudo começou a fazer sentido.Gostava de ir ao clube,mas não para nadar,apenas ficava sentada perto das árvores,bem na sombra,e olhava por cerca de cinco minutos as pessoas e a movimentação.Certo dia,Cida não ficou perto das árvores,nem ficou observadora.Decidiu andar mais adiante,talvez em um lugar onde ninguém mais conhecia.Passadas algumas horas,seus pais deram por falta e procuraram Cida por todos os lugares,sem sucesso.Era quase de noite quando a pequena garota retornou.Não disse nada de início,só abraçou sua mãe.
-Onde você estava,querida?
-Em um lugar onde talvez ninguém conheça,apenas os escritores.Nada comparado.Sim,lá eu estava em casa.
A conversa acabou por ai.Foram para a casa e não tocaram mais no assunto.Cida,ao chegar em casa,foi direto escrever.Não demorou cerca de dez minutos.O conto já estava totalmente pronto.Tinha um prazo de três dias para entregar,Com todo esse tempo que restou,decidiu escrever mais contos.Chegado o dia,apresentou o conto.”Aqui está.Se chama ‘Aonde iriam os restos de um dente-de-leão?’”.Com isso,começou a lê-lo: 

"Quando o vento ficava forte,os galhos faziam sua enorme sinfonia,realmente algo incrível.Talvez nada seria mais lindo do que aquilo,mas quando algo pousou em minha cabeça,me fazendo olhar para o céu,eu tive a certeza de que eu estava errada.Restos de dentes-de-leão chegavam naquele lugar.Pareciam bem-vindos.Não foram poucos que chegaram,foram muitos.Em alguns minutos tudo se tornou partes de um dente-de-leão.Quando o vento mais uma vez chegou forte,tudo entrou em movimento.A natureza havia formado um baile,e que lindo era.Pena que tudo foi muito rápido.Aquele realmente era o lugar onde os esquecidos por todos iam.Os dentes-de-leão eram simplesmente bons dançarinos,apesar de esquecidos.Saí de lá com vontade de ficar  uma vida inteira.Talvez quando todos ficarem velhos e foram esquecidos,irão para um lugar igual ao dos dentes-de-leão.Quem sabe até o mesmo lugar."

O conto foi publicado, do seu jeito breve,mas que dizia tudo e Cida não contou a ninguém se esse lugar é real ou se mais uma vez foi fruto daquela coisa que chamamos de imaginação.Um dia qualquer encontrarei Cida passando na rua e perguntarei.Talvez ela me diga.Não custa tentar.