sexta-feira, 17 de julho de 2015

Nossa estrada



O ar e a vegetação não deixam enganar: não estou na capital. As placas me orientam 7 km até Itu. Tudo isso para reviver aquele amor de inverno. Paro para pagar o pedágio. A atendente, uma tal de Cláudia nota a felicidade estampada em meu rosto.

- Bom dia, senhor. É raro vermos um sorriso por aqui – disse a atendente, enquanto entrego os R$5,60 de pedágio.

- Estou indo reencontrar um amor. Prazer, me chamo Júlio. Até logo – me despedi com um breve aceno

- Até logo! Estarei torcendo por você.

A cancela subiu e continuei meu rumo. No caminho, um túnel chegava. Quando entrei nele, uma vaga lembrança rodeou minha cabeça. Sexta-Feira, julho de 2007. Foi quando, junto com a minha música preferida, eu a beijei. As luzes do túnel refletiam todo aquele sentimento. Não havia puder nem tempo para nos atrapalhar.

Saio do túnel. O sol volta a iluminar minha face. Já estou quase chegando para rever Cidinha. Aparecida Maria dos Anjos. A Cidinha de Itu. Na época em que eu morava lá no interior também, já esbarrei com ela na cidade, só não sabia quem era.

Estou a 4 km de Itu. É melhor este GPS quem comprei estar certo. 2 km, ainda é meio-dia. Dá tempo de comer em um posto. Volto para o carro e antes de partir tiro do rádio e coloco um CD do Camisa de Vênus. Ajeito o retrovisor. Saio com tanta pressa que esqueço de dar uns trocar para o menino que cuidava dos carros enquanto empinava sua pipa com as cores do Brasil.

Enfim chego. Passo pelo centro e novo-centro de Itu. Muita coisa mudou desde que fui para São Paulo, mas algo continuava a mesma coisa: o brechó do meu tio Túlio. Estava do jeito que eu me lembrava: Uma placa de madeira toda comida pelos cupins e dentro do brechó então, uma montanha de coisas. O cumprimento com um longo abraço, seguido de uma pergunta óbvia:

- Cadê a Cidinha?

-  Olha, Julinho, já faz um bom tempo que não vejo essa menina. Passa na casa dela.

- É isso que vou fazer – respondi sem aquele sotaque do interior.

Peguei o carro e parti. A Cidinha morava na rua 15 de Maio, próxima do centro. Chegando lá, encontro seu irmão mais novo. “Poxa, como ele cresceu... ou será eu que envelheci?”. Bato palma e o irmão que de mais novo já não tem nada, me recepciona. Então entro e cumprimento dona Maria, mãe da Cidinha. Ela me conta que faz um tempo que ela havia se mudado para Salto, uma cidade não muito longe de Itu. Peguei o endereço e sai imediatamente. Tiro o CD do Camisa de Vênus e coloco um do Nando Reis.

Chego a Salto e encontro a casa. Bato palma e quem me atende é um senhor de uns 70 anos. Ele conta que faz um tempo que uma moça morava ali decidiu ir para Valinhos. Mais uma vez peço o endereço e saio. Não troco de CD.

Chego a Valinhos quase a noite. Encontro a casa. Não bato palma, acho uma campainha. Uma moça vem me atender, mas não é Cidinha; Era uma amiga minha da escola.

- Ana!

- Julinho!

Ela me convida para entrar e contar sobre Cidinha.

- Você sabe como ela é, Julinho, nunca gostou de se sentir presa. Descobri que você estava em São Paulo e contei à Cidinha. De cara ela começou a fazer as malas e disse que ia te rever a qualquer custo.

- E quando ela partiu?

- Faz uns três dias.  Ela deveria estar te procurando por todos os cantos.

- Ai meu Deus, preciso ir logo

-  Mas já está escuro!

- Não importa, vou correndo.

Nem sei como fiz isso, mas quando percebi já estava dentro do carro. Acelerei o mais rápido que pude. Em menos de dez minutos eu já estava prestes a entrar no túnel, aquele da Sexta-Feira de julho de 2007. Foi quando algo aconteceu. Enquanto eu entrava no túnel, outro carro entrou, enquanto eu ia abrindo a janela do carro e colocando para fora, lembrando todo aquele momento, a pessoa do outro carro também fez isso. Nossas luzes se chocaram. Meu rosto foi iluminado e o da outra pessoa também.

Atrás daquele volante, uma garota, cabelos escorridos sendo bagunçados pelo vento, olhos castanhos, óculos de grau. Parecia... não pode ser. Não! De modo algum. E toda essa cena durou minutos. Saio do túnel e o outro carro também. Fecho o vidro e a garota do outro carro também.

... Mas e se for ela? Não que eu esteja enlouquecendo, mas e se por uma fração de segundos for ela?

( Não dei um trocado para o menino que estava empinando pipa e cuidando dos carros)


(... Na próxima lembrarei )


( Chego em São Paulo... meu nariz já está ardendo por causa da poluição )


( Cidinha não está mais em SP )


                 ( ... Voltou para casa  )


PS: recebi uma carta que ela deixou aqui em casa, que dizia...