O ar e a vegetação não deixam
enganar: não estou na capital. As placas me orientam 7 km até Itu. Tudo isso
para reviver aquele amor de inverno. Paro para pagar o pedágio. A atendente,
uma tal de Cláudia nota a felicidade estampada em meu rosto.
- Bom dia, senhor. É raro vermos
um sorriso por aqui – disse a atendente, enquanto entrego os R$5,60 de pedágio.
- Estou indo reencontrar um amor.
Prazer, me chamo Júlio. Até logo – me despedi com um breve aceno
- Até logo! Estarei torcendo por
você.
A cancela subiu e continuei meu
rumo. No caminho, um túnel chegava. Quando entrei nele, uma vaga lembrança
rodeou minha cabeça. Sexta-Feira, julho de 2007. Foi quando, junto com a minha
música preferida, eu a beijei. As luzes do túnel refletiam todo aquele
sentimento. Não havia puder nem tempo para nos atrapalhar.
Saio do túnel. O sol volta a
iluminar minha face. Já estou quase chegando para rever Cidinha. Aparecida
Maria dos Anjos. A Cidinha de Itu. Na época em que eu morava lá no interior
também, já esbarrei com ela na cidade, só não sabia quem era.
Estou a 4 km de Itu. É melhor
este GPS quem comprei estar certo. 2 km, ainda é meio-dia. Dá tempo de comer em
um posto. Volto para o carro e antes de partir tiro do rádio e coloco um CD do
Camisa de Vênus. Ajeito o retrovisor. Saio com tanta pressa que esqueço de dar
uns trocar para o menino que cuidava dos carros enquanto empinava sua pipa com
as cores do Brasil.
Enfim chego. Passo pelo centro e
novo-centro de Itu. Muita coisa mudou desde que fui para São Paulo, mas algo
continuava a mesma coisa: o brechó do meu tio Túlio. Estava do jeito que eu me
lembrava: Uma placa de madeira toda comida pelos cupins e dentro do brechó
então, uma montanha de coisas. O cumprimento com um longo abraço, seguido de
uma pergunta óbvia:
- Cadê a Cidinha?
-
Olha, Julinho, já faz um bom tempo que não vejo essa menina. Passa na
casa dela.
- É isso que vou fazer – respondi
sem aquele sotaque do interior.
Peguei o carro e parti. A Cidinha
morava na rua 15 de Maio, próxima do centro. Chegando lá, encontro seu irmão
mais novo. “Poxa, como ele cresceu... ou será eu que envelheci?”. Bato palma e
o irmão que de mais novo já não tem nada, me recepciona. Então entro e
cumprimento dona Maria, mãe da Cidinha. Ela me conta que faz um tempo que ela
havia se mudado para Salto, uma cidade não muito longe de Itu. Peguei o
endereço e sai imediatamente. Tiro o CD do Camisa de Vênus e coloco um do Nando
Reis.
Chego a Salto e encontro a casa.
Bato palma e quem me atende é um senhor de uns 70 anos. Ele conta que faz um
tempo que uma moça morava ali decidiu ir para Valinhos. Mais uma vez peço o
endereço e saio. Não troco de CD.
Chego a Valinhos quase a noite.
Encontro a casa. Não bato palma, acho uma campainha. Uma moça vem me atender,
mas não é Cidinha; Era uma amiga minha da escola.
- Ana!
- Julinho!
Ela me convida para entrar e
contar sobre Cidinha.
- Você sabe como ela é, Julinho,
nunca gostou de se sentir presa. Descobri que você estava em São Paulo e contei
à Cidinha. De cara ela começou a fazer as malas e disse que ia te rever a
qualquer custo.
- E quando ela partiu?
- Faz uns três dias. Ela deveria estar te procurando por todos os
cantos.
- Ai meu Deus, preciso ir logo
-
Mas já está escuro!
- Não importa, vou correndo.
Nem sei como fiz isso, mas quando
percebi já estava dentro do carro. Acelerei o mais rápido que pude. Em menos de
dez minutos eu já estava prestes a entrar no túnel, aquele da Sexta-Feira de
julho de 2007. Foi quando algo aconteceu. Enquanto eu entrava no túnel, outro
carro entrou, enquanto eu ia abrindo a janela do carro e colocando para fora,
lembrando todo aquele momento, a pessoa do outro carro também fez isso. Nossas
luzes se chocaram. Meu rosto foi iluminado e o da outra pessoa também.
Atrás daquele volante, uma
garota, cabelos escorridos sendo bagunçados pelo vento, olhos castanhos, óculos
de grau. Parecia... não pode ser. Não! De modo algum. E toda essa cena durou minutos.
Saio do túnel e o outro carro também. Fecho o vidro e a garota do outro carro
também.
... Mas e se for ela? Não que eu
esteja enlouquecendo, mas e se por uma fração de segundos for ela?
( Não dei um trocado para o
menino que estava empinando pipa e cuidando dos carros)
(... Na próxima lembrarei )
( Chego em São Paulo... meu nariz
já está ardendo por causa da poluição )
( Cidinha não está mais em SP )
( ... Voltou para casa )
PS: recebi uma carta que ela
deixou aqui em casa, que dizia...
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