Oh, senhor! Peço um pouco de luz, para a
cabeça voltar a controlar e o coração parar de mandar.
As ruas cheias da Augusta são minha
única companhia. Abandonei de vez aquela prosa com excesso de belezas e nesse
exato momento tomo um café com a prosa real, estruturada para ser um espelho
dessa sociedade falha, e acendo o décimo terceiro charuto do dia.
Não quero ser apenas aquele que é
ouvido. Quero ouvir palavras que tocam bem na cicatriz que continua aberta.
Quero ser o ouvinte. Mas nada muda. Continuo com as mesmas lamentações e você
sempre ouvindo atentamente cada coisa que um homem de 37 anos lamenta-se não
ter feito ou vivido.
E as outras cartas que te escrevi
continuam em suas mãos, presas com fita durex da mais barata que encontrei na
papelaria de casa. Casa, uma senhora que há tempos não visito, por isso não
ligue se eu estiver cheirando mal pra cacete. Pensei em voltar, mas algo me
impede. Algo que possui nome, RG, CPF, comprovante de residência, tristezas,
alegrias.
Passar as noites em um albergue até que
não é tão ruim. Lá é lugar para qualquer um que queira algum dia ser livre ou
não tenha outra opção. Esta última coisa foi o meu caso. O frio da madrugada é
mortífero. Sobe pelos furos não remendados da única roupa que tenho. Para a
minha sorte e a de todos, sempre tem alguém com uma barrigudinha para esquentar
o corpo e para dividir com os amigos. Não sou chegado a álcool, mas essa é a
consequência por novamente ter ouvido aquela porcaria que bombeia sangue.
A tinta da caneta que achei na rua e o
pedaço de saco de pão que uso para escrever estão acabando.
Dia desses, indo te encontrar, vi que
havia respondido minhas cartas. Diversas respostas na verdade, com letras
femininas, masculinas, marcas de batom, cinzas de cigarro.
Fico feliz por haver alguém se
importando comigo. Minha próxima carta talvez demorará, mas espero que você não
se incomode de ler e responder mais uma.
Acredite, você é o único que se importa
comigo.
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