O que vou dizer aqui ficará só entre a gente,ok?Não que eu não confie
nas outras pessoas.É que tenho um segredo que guardo desde pequeno.E
também que quando se tem 12 anos,é difícil um adulto acreditar em você.
Bem,acho que devo começar falando quem eu sou: Me chamo Jake
Vilhegas,tenho diversos posters de artistas que já morreram há um
tempão- Presente da mamãe- e gosto de esportes.Já representei meu país
cinco vezes nas Olimpíadas.Ganhei medalha de ouro na natação,no judô,no
salto com vara,no tênis de mesa e muitos outros nomes difíceis que não
consigo pronunciar.Acho que o mais legal é ver como os atletas ficam
abismados quando subo no pódio para pegar minha medalha e ouvir o hino
do meu país.Ah,caso eu não tenha falado,sou russo.Não russo russo,mas
russo.Nasci mesmo em Portugal,mas meu pai se apaixonou por uma linda
russa,que anos mais tarde seria a minha mãe.Mas voltando aos esportes:
essa é a minha vida de campeão olímpico. Ou a vida que eu queria ter.A
verdade é que não sou um campeão,ou o cara que todos lutam para escolher
primeiro na educação física.Sou cadeirante,por isso não participo de
algumas atividade físicas.Todos me perguntam se eu ligo para
isso.Sinceramente: Não. Quando eu era pequeno,papai me deu um presente
que guardava um presente- o mesmo que irei te contar agora.Ele disse:
Jake,como você está ficando um moço,seu presente de natal esse ano será
especial.Papai chegou com uma caixa enorme.Abri e soltei um “CARAMBA”
bem alto. Era uma cadeira de rodas pintada de vermelho e uns detalhes de
fogo e desenho de caveira,nas rodas.Papai me ajudou a subir nela e
sussurrou em meu ouvido: Jake,tenho um segredo para você.Essa cadeira é
mágica,pode se transformar no que você quiser,basta pedir.
De primeira,não acreditei muito.Agradeci pelo presente e fui para
fora.Como aonde moro quase sempre há neve,saí para ver o chão todo
branco.Meu sonho sempre foi descer um monte de trenó.Por um
momento,acreditei no que papai disse.Fechei os olhos e desejei que a
cadeira se transformasse em um trenó.Após ter desejado,senti um frio na
barriga e um vento gelado no meu rosto.Abri os olhos e quando vi,eu
estava descendo um enorme monte em um trenó vermelho com desenhos de
caveira.Simplesmente explodi de felicidade.Foi o melhor natal de
todos.Muitas crianças estavam comemorando o natal com seus pais ou
estavam se esquentando na frente da lareira.Eu estava subindo e descendo
montes com minha cadeira-trenó.
A partir daquele dia,resolvi usar minha cadeira para ajudar também
outras pessoas.Salvei Bob de uns garotos mais velhos com a minha
cadeira-contra-surra-de-valentões.Salvei a Lietch na aula de Ed. Física
com a minha cadeira-protetora-contra-bolas-de-queimada. Eu até que
gostava um pouco dela,mas aí já é outra história.Aos poucos,me tornei um
herói.
E foram longos anos de glória,mas quando fiz meus 12 anos,a cadeira
já não se transformava com tanta frequência.Pensei procurar o papai para
ver se ele a arrumaria para mim.
-Sinto muito filho,não posso arrumá-la.A mágica está fraca e conforme se cresce ela fica gasta,assim como a bateria de celular.
Perguntei então qual era a mágica que fazia a cadeira se transformar
em tudo o que eu quisesse.Ele me olhou no olho e disse,com a mão
afagando meu cabelo: Sua imaginação.Foi quando eu me lembrei que até um
garoto com uma cadeira de rodas mágica precisa crescer.
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