Me lembro de quando eu estava junto aos outros.Enfileirados em
ordem de tamanho.Cada um de uma cor.Eu era o azul.Os mais bonitos iam
primeiro.Hoje o de formato de sol foi o sortudo.Logo ao chegar já estava
de saída.Eu estava certo de que também chegaria a minha vez de partir.
Tínhamos que ficar todos os dias comportados,sem nos mexer.Às vezes o
vento me bagunçava por completo.E é claro que todos entendiam.Cada dia
que passava eu ficava mais sozinho.Eram inúmeras despedidas.Talvez eu
também não partia porque eu não era como os outros.Eu não me importava
com essas coisas.Ser “diferente” não me incomodava,incomodava quem
estava ao meu redor.Não se afastavam de mim porque assim como eu,estavam
presos no carrinho.Aposto que se tivessem vontade própria,se afastariam
na primeira oportunidade.E a fila enorme e alinhada ia ficando pequena e
desorganizada.Pequena,pois os que partiam não voltavam para serem
enchidos novamente e não chegavam novos.O tempo passou e os que restaram
estavam ficando esquecidos.Mas isso não durou muito.Quando as coisas
não vão bem sempre nos mudamos para outro local.Nosso carrinho agora
estava no centro da cidade.Foi uma técnica inteligente,pois crianças que
passavam pelo calçadão imploravam para os Pais comprarem todos os dias
um balão.Ou até mesmo Homens que voltavam do serviço compravam balões
vermelhos para acompanhar o buquê de rosas e os bombons para a esposa.
Mesmo com o ritmo acelerado não chegavam novos.Talvez o carrinho dos
balões estava se aposentando - ou seria o vendedor?Dentro de uma semana
restavam poucos.Eu ainda continuava ali,esperando a minha vez.Os mais
cansados de esperar simplesmente estouravam.Talvez seria isso o que
todos parecidos comigo fazem.Chamaria isso de vida em ciclos.Morremos de
forma rápida e indolor.Quanto mais forte o barulho,maior a sua
coragem.Até o momento eu não sabia o tamanho da minha coragem.Eu só
queria que o meu barulho fosse comparado a um trovão.
Daquela multidão enfileirada eu fui o último que restou.Eu estava
pensando no que fazer,quando sinto alguém me desamarrando. “Obrigado por
tudo!Pelo início,meio e fim.Nada mais justo do que sentir a sua
liberdade tão desejada” foi o que um homem de cabelos e barba branca
disse para mim.Uma ventania forte me levou para cima.Logo logo cairia
uma chuva.Enquanto não caia,consegui avistar todo um mundo que eu não
fazia ideia que existia.As coisas vistas de um outro ângulo se tornavam
diferentes,mais bonitas,de certa maneira.Aos poucos eu ia chamando a
atenção.Pessoas na correria do dia a dia paravam e olhavam para algo
azul que passeava pelo céu.A chuva começou e eu não parava de subir.Aos
poucos eu ia ficando vazio.Seria o mesmo vazio que tantas pessoas sentem
todos os dias?Provavelmente.É como algo te tirando tudo e nada,ao mesmo
tempo.Decidi ver o tamanho da minha coragem.Antes de estourar,surgiu um
raio.Logo em seguida o estouro.Após,um barulho altíssimo.Parti sendo
diferente dos outros e também não sendo muito aceito.Nada disso importa
para mim.Diferente ou não eu fui simplesmente eu mesmo.A única coisa que
eu queria saber é se aquele barulho foi a minha coragem de encarar as
coisas do meu jeito ou o trovão que chegou logo em seguida.Talvez os
dois tenham se tornado um só.Um dia descubro.
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