quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Aonde iriam os restos de um dente-de-leão?

Assim como todas as crianças que brincam,imaginam,fazem acontecer,Cida era como elas,talvez com uma imaginação mais avançada ou apenas colocava mais verdades em suas histórias.Não citarei sua idade porque não há idade certa para começar e para terminar de imaginar-chame do que quiser,sonho,fantasia,etc.A coisa correta de se afirmar é que ela ainda estava no começo de tudo.Vinda de uma família de professores,adorava saraus,cordéis,muito mais coisas que ficaria meio impossível citar todas.Arriscava uns versinhos que quebravam o clima pesado em casa e sempre conseguia quebrar.Nos concursos da escola,sempre ficava em primeiro lugar.Sua estrofe-chamo isso de poesia completa-campeã foi:

"As asas se abrem para voar;
Os olhos refletem a alma,talvez para dar calma;
E porque um filho é uma tênue,eterno;
É ser algo;
Porque eu posso ser qualquer coisa;
E às vezes,qualquer coisa pode ser tudo;
Então prefiro ser o sonho em carne,e não chorar;
Afinal,ser forte não quer dizer:Não cair;
Ser forte quer dizer:Levantar;
Quer dizer, não desistir,ser grande,para si mesmo,não para os outros;
Porque no final não vai existir bem e mal,irmã ou irmão;"

É de surpreender com tamanha perfeição em palavras escritas por uma pequena garota.Usou por três anos as mesmas palavras e ganhou esses três anos o primeiro lugar.O desafio agora seria outro:Uma revista,ao ver o brilhante talento da garota,a convidou para escrever algo e publicar.Se demonstrasse potencial,seria tema da primeira página,algo como:Jovem escritora surpreende o mundo com suas palavras.Aceitou o desafio,mas não sabia por onde começar.Sobre o que escreveria?Algum romance curto?Um conto com cara de crônica?Um mundo em poucas linhas?Foi quando tudo começou a fazer sentido.Gostava de ir ao clube,mas não para nadar,apenas ficava sentada perto das árvores,bem na sombra,e olhava por cerca de cinco minutos as pessoas e a movimentação.Certo dia,Cida não ficou perto das árvores,nem ficou observadora.Decidiu andar mais adiante,talvez em um lugar onde ninguém mais conhecia.Passadas algumas horas,seus pais deram por falta e procuraram Cida por todos os lugares,sem sucesso.Era quase de noite quando a pequena garota retornou.Não disse nada de início,só abraçou sua mãe.
-Onde você estava,querida?
-Em um lugar onde talvez ninguém conheça,apenas os escritores.Nada comparado.Sim,lá eu estava em casa.
A conversa acabou por ai.Foram para a casa e não tocaram mais no assunto.Cida,ao chegar em casa,foi direto escrever.Não demorou cerca de dez minutos.O conto já estava totalmente pronto.Tinha um prazo de três dias para entregar,Com todo esse tempo que restou,decidiu escrever mais contos.Chegado o dia,apresentou o conto.”Aqui está.Se chama ‘Aonde iriam os restos de um dente-de-leão?’”.Com isso,começou a lê-lo: 

"Quando o vento ficava forte,os galhos faziam sua enorme sinfonia,realmente algo incrível.Talvez nada seria mais lindo do que aquilo,mas quando algo pousou em minha cabeça,me fazendo olhar para o céu,eu tive a certeza de que eu estava errada.Restos de dentes-de-leão chegavam naquele lugar.Pareciam bem-vindos.Não foram poucos que chegaram,foram muitos.Em alguns minutos tudo se tornou partes de um dente-de-leão.Quando o vento mais uma vez chegou forte,tudo entrou em movimento.A natureza havia formado um baile,e que lindo era.Pena que tudo foi muito rápido.Aquele realmente era o lugar onde os esquecidos por todos iam.Os dentes-de-leão eram simplesmente bons dançarinos,apesar de esquecidos.Saí de lá com vontade de ficar  uma vida inteira.Talvez quando todos ficarem velhos e foram esquecidos,irão para um lugar igual ao dos dentes-de-leão.Quem sabe até o mesmo lugar."

O conto foi publicado, do seu jeito breve,mas que dizia tudo e Cida não contou a ninguém se esse lugar é real ou se mais uma vez foi fruto daquela coisa que chamamos de imaginação.Um dia qualquer encontrarei Cida passando na rua e perguntarei.Talvez ela me diga.Não custa tentar.

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