segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Camisa Listrada

Ela não é tão listrada, para ser sincero. É que listrado foi a primeira coisa que veio na cabeça.
A desgraçada pinica, enforca, tem o cheiro de outras pessoas – pessoas que sentenciei pena de morte -, amassa fácil, esquenta. A desgraçada continua sendo minha. Por que te uso, se não és um ser? Não há graça assim.

Tentei vendê-la no mercado negro, mas consideram perigosa demais. No banco, a mesma putaria. Reservam um cofre especial à ela.

Me faz mostrar todo o bem que o álcool e o cigarro fazem ao meu endoesqueleto e crosta, que antes era pele.

Já gritei, esmurrei. Saia da minha vida de uma vez por todas. Quero a alforria, correntes estraçalhadas no chão.

Agora noto um detalhe. Um detalhe que não é azul, mas sim vermelho. O mesmo vermelho de dentro das veias e artérias. O vermelho negro que coagula e me intoxica com seu plasma e linfócitos.

A noite chega e, raios, ela me tenta novamente. Não vou te obedecer, sim, vou te obedecer. Aquela mulher? Aquela criança? Como? Faca ou bala? No Brás? Liberdade? Metrô? Agora? Sim.

Prometo um dia me livrar deste objeto inútil, dotado de mistérios e perigos. Prometo um dia também saber o que é mais misterioso e perigoso: essa camisa listrada que não é listrada ou o dono que a veste. Talvez um pouco dos dois, mas a culpa de tudo ainda é dela. Só dela!

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