1- A personagem pode ser compreendida
... Tempos, muitos, depois e eu aqui querendo explicar um daqueles momentos que a gente senta a uma linda mesa- como a mesa da Santa Ceia- e a vida prepara uma lista com tudo de ruim e péssimo em cada tempo, tempo verbal, juntamente com uma não sucinta explicação sobre aquilo que queremos explicar, mas não pode ser explicado. O looping que isso dá causa ânsia e compulsão literária. (Mas foda-se tudo isso) 2- Utilização do místico e metáforas para explicar uma sequência de ideias ... Ela não deveria existir. Deveria ter permanecido em contos claricianos. Na verdade, não sei se é a mesma mulher. Ela é inconstante. De pseudônimo, passa a ser heterônimo – você não é o único, Fernando Pessoa, nunca foi – e fica nessa incorporação de nomes, personalidades, corpo, o próprio folclore. Por isso quero que entenda se houver um grave engano nisso tudo ( Apresentou-se como Helen Palmer, só isso) 3- A personagem demonstra dificuldade em descrever ... Não sei definir seus cabelos. Na rua de sempre, mostram-se loiros. Na janela de sempre, passam de loiros para morenos. Na mesma tarde, enferrujam em um vermelho alaranjado. Na boemia, surpreende com seu poder afro ( Asé ) 4 – Introdução à sexualidade (?) ... Mas os seios, sempre os seios, permanecem iguais. Sem nada para cubri-los, salvo a fina renda da camiseta. Atrevo-me a olhar os dois bicos eriçados em cada encontro nosso. ( Mas ontem mesmo beijei Pedro, sem remorso ) 5 – Desejo e ofício ... Toda vez parece um jogo, que Helen sempre quer jogar. Sabe provocar e impor respeito. Quero me saciar em seus fartos lábios, quero provar do pecado da carne, ficar trancado em um quarto a noite inteira, ser dominador pelo menos dessa vez ( Mesmo tendo feito o voto ao celibato ) 6 – Forte desabafo e predomínio do inconsciente ... Então me diga, pelo menos dessa vez, onde estás. Diga logo! A carne dilacera quando não mantém contato com a sua. Não amo Pedro, nem a você. Por que amar Helen e Pedro, aquele Pedro que cai em sua própria tentação, enquanto repousa nu no lado direito da minha cama? O esquerdo é analogia a coração, você deveria estar do lado esquerdo. Mas por que, se não te amo? Permaneço dormindo no meio, no meio da cama, no meio de tantas dúvidas. ( Você e Pedro são a mesma pessoa? ) 7 – A personagem não pode mais ser compreendida, nem quem a criou consegue compreendê-la ... Guardo-a com todos os traços merecidos. Nunca mais nos encontramos, só encontro Pedro. Não quero Pedro, nem quero você. Ou será que quero? Por favor, venha me ver. ( Amanhã é missa de Páscoa ) (Esteja lá para se confessar no final ) ( Como padre, te perdoo por seus pecados ) ( Perdoo a Pedro também ) |
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Traços de Helen Palmer
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