segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Isso não é coincidência

Vai José, a velha música que toca, o velho sapato do homem ao lado. A cidade caiu, ouvi isso de alguém, um artista passando na rua. Caiu mesmo, pensei, tinha nas mãos e deixei que caísse. Caiu no chão ao lado da moça de pé no ônibus que usa a mesma jaqueta Jeans para voltar para casa. Jaqueta essa igual a que comprei, mas sem seus botons. Botons para deixá-la mais bonita. A jaqueta. A moça que continua de pé, mas prepara-se para sair. Eu quero essa moça. Não por desejo de possui-la, mas para toda vez que eu estiver sentado no mesmo ônibus, tirá -la do bolso da calça para que esteja onde deve estar: fazendo companhia a uma pessoa que não conhece, mas que já viu. Sempre vê. Tento adivinhar seu nome. Qual será? Isaura não é, talvez Josefa. Procurei em todos os seus botons da jaqueta e nenhum me contou qual era. 

Mas ainda estou falando nisso, por quê? Isaura-Josefa-não-sei-mais-o-que agora está sentada no fundo do ônibus. Deve estar esperando alguém. Talvez o rapaz que sempre passa pela catraca sorrindo. O mesmo rapaz pálido, com uma tatuagem próximo à orelha esquerda. O símbolo de peixes, que ainda continua aonde deve estar. Há um lugar vazio ao meu lado, mas o rapaz nunca enxerga o mesmo lugar vazio de sempre. Por que as pessoas nunca enxergam o que sempre está vazio, mesmo não estando. Vitor-Pedro-não -sei-mais-o-que-pensar vai para o fundo. O fundo que já é seu. Senta-se ao lado da moça, lhe entrega um botom laranja, ontem foi vermelho. Sexta foi vermelho de novo.

Saio sem saber o desfecho de tudo isso. Nunca sei. Nunca saberei. Não é coincidência os dois nunca descerem antes de mim. Sabem que todos os dias há alguém que escreva sobre os dois. 

Não seria coincidência também eu querer um botom vermelho de Vitor-Pedro-não -sei-mais-o-que-pensar. Só para cobrir essa minha jaqueta tão despida, que treme de tanto estar descoberta. Não é coincidência, nem pedir demais.

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