segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Luiza

Luiza adorava conversar. Digo adorava no sentido de pretérito mesmo, já que foi a última coisa que fizemos. Confesso que no fundo, aquele lugar que de tanto a gente socar sentimento transborda em uma overdose de individualidade, bem no fundo mesmo eu queria algo a mais. As coisas não andam bem, desempregado, largado, endividado. Uma companhia para a enorme cama do meu quarto que é escuro, mesmo de dia, cairia bem. A vida precisa de prazer para ser vida. Eu preciso de prazer para estar vivo. Não temo o pecado, já que não peco. Quem cria o pecado é seu próprio pecador, não passa de um indivíduo querendo privatizar o que te faz feliz. 

Mas Luiza não sente prazer ao se deitar com um homem. Ela própria me disse isso. Odiou um peso morto de peitoral farto em pelos em cima dela. Luiza também não sente prazer ao se deitar com uma mulher. Não vê graça em um par de seios sob seu fino rosto. 

Então o que faz Luiza sentir prazer, afinal? Animais, bebidas,roupas, cigarro, sexta-feira, feriado, morte, David Bowie, Minas Gerais? Nada disso.

Em nossa última conversa, revelou a mim cada detalhe do seu não-pecaminoso-pecado. Não sei mais se um dia nos veremos, por isso o começo de sua história, meio e fim continuam em um pretérito, em tempos perfeito e por muito pouco mais-que-perfeito.

Luiza sente prazer ao escreverem seu nome com "Z de Zangão, não S de Santo"; ao desejarem um Bom-dia, um Boa-tarde, um Boa-noite ao entrar ou sair do elevador lotado de pessoas que durante anos vivem em sua própria mesmice; elogie-a do jeito que estiver, seja com aquele vestido que marca com perfeição a obra do Grande Criador ou com a pantufa de girafa que falta um olho esquerdo, somente elogie-a; dance ao seu lado em dia de temporal na Cidade Grande; um Disco de Vinil dos clássicos é muito bem-vindo. 

Às vezes, ou nesse momento mesmo, penso na hipotese de Luiza com Z ser alguma invenção da minha cabeça. Quem em sua sã consciência Paulista sentiria prazer nessas coisas que tempos atrás eu nem sabia que poderiam gerar um momento de prazer. E que momento, era demorado e bem aproveitado, só Luiza sabe... Eu finjo que sei. 

O ano está quase acabando e ainda não consegui encontrá-lá. Então peço encarecidamente, do mesmo fundo que mencionei anteriormente, se alguém souber de algum possível lugar que ela esteja, faça com que Luiza tenha o melhor dia de sua vida pela milésima vez. Muitas vezes a gente é feliz e nem sabe que é. Eu aprendi isso, não com a vida, e sim com Luiza, que posso afirmar estar cem porcento viva. E nós, o que estamos fazendo aqui?

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