segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Texto livre sobre um almoço qualquer


O homem da cidade é único, acredito nisso. Acorda cedo pra trabalhar, acorda cedo pra protestar, acorda cedo por simplesmente decidir acordar. Perguntei-me se até mesmo aqueles que fazem a noite seu dia são assim ou se eu só estaria novamente com a velha crise de generalizar tudo que só penso uma vez. Falta empatia, isso falta.


Que fique bem claro o título que estampei acima. Que fique claro para a minha pessoa que estou alforriando este texto. Não há como prendê-lo, já que esqueci meu caderno de textos em cima da cabeceira. Pois bem, faça à tua vontade.

Isso foi em um almoço. Não foi o primeiro que tive, pelo menos sem ele. Ele era novidade. Estava em outra mesa, lendo um jornal de 2006. Os sapatos rasgados estavam desamarrados, a calça rasgada estava sem nem um mísero botão, a camisa rasgada estava suja, a face rasgada ainda tinha um pouco de sangue coagulado por conta da possível visita cortante de uma faca. Olhei novamente, estava do mesmo jeito. Parecia ocupado, conversando com a cadeira vazia ao seu lado. Pelo jeito sua companhia era divertida, pois não passava um minuto sem faltar o ar de tanto rir. 

Meu prato estava idêntico aos outros dias. A mesma quantidade de arroz sem a absurda quantidade de feijão- eu não deveria fazer isso, mas faço. Tudo estava igual, menos aquele homem. Ele tinha alguma coisa de diferente. O tempo estava a seu favor-então era isso. 

Comi rapidamente, para não estourar meu limite de tempo de almoço. Com o guardanapo, sempre do meu lado direito, limpei o resto de suco que ainda estava na minha boca. Olhei para o relógio, passara da hora de voltar, voltar para o mesmo lugar. Já aquele homem não precisava correr contra o tempo, na verdade talvez nem precisava saber o que é o tempo. Aquele era seu momento, um único momento. 

Ao sair da minha mesa, pensei ter sido chamado por aquele homem, mas estava falando novamente com seu amigo da cadeira ao lado- sim, havia alguém lá. 

No começo do texto eu disse que o homem da cidade é único. Talvez só exista um homem único, e é aquele homem. Nós somos somente uma cópia barata daquilo que querem que sejamos, até o que pensamos é cópia, mas cópia barata. Não aquela colorida. É no preto e branco mesmo, com manchas de tinta

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