segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Minha liberdade

É minha, sempre foi. Mas também pode ser sua. A gente se espreme um bocadinho no vagão e aos poucos chegamos lá. Não precisa ter pressa, já estamos na Sé. Mais uma e pronto. Não tem problema de nos atrasarmos. A escada rolante continua no mesmo lugar, continua quebrada. Eu sei que é chato ter que subir todo aquele lance de escada, mas se contarmos até dez já estaremos nas catracas. Posso te esperar por lá mesmo, se preferir. Caso um de nós se perca nessa hipérbole de baldeação que tem o nosso metrô. Sim é nosso. Podemos estar em qualquer lugar da cidade. Não só nós, Mas toda a multidão que me acompanha. Nesse mesmo momento um homem mais alto que eu lê cada palavra que escrevo. Não há o que fazer, insisto. Ou termino isso aqui ou seguro na barra de ferro para não cair em cima da grávida do assento preferencial. 

Meu Deus, mas que demora. As portas não fecham, as pessoas não param de insistir em entrar. Por favor, seu-moço-que-dirige-o-trem, avisa que não dá mais, avisa que precisamos chegar na próxima estação. 

É preciso liberdade. Mesmo à noite, é possível ver a beleza que esconde. Os postes de luz clareiam um pouco a rua e ilumina a alma do pobre cidadão que não sabe o que quer dizer "amor". Não sei por que estou pensando nisso, talvez assim eu pare de insistir em fazer o trem andar, mas ele continua parado. 

O homem não observa mais o que escrevo. Privacidade no que é público, chegamos aos finalmente. Engraçado, em cada estação encontro pessoas que um dia eu quis encontrar por vontade própria. Os rostos mudam, o corpo também, mas aquele resto de alma no canto do olho continua o mesmo. Também encontro pessoas pela primeira vez. E é aquela primeira vez em que a gente sente uma vontade de sentar e tomar um café enquanto conversa sobre qualquer coisa. Então a porta se fecha e toda aquela história criada pela cabeça vai embora, dando lugar a mais uma fantasia.

Desculpe o tanto de coisas ditas, mas é preciso. O metrô já está para fechar e ainda não consegui deixar a Sé de mim. Mas eu sei que você entende, pois eu também entenderia se não fosse eu o protagonista da minha própria história. 

Pode demorar um tempo para que eu volte. Talvez seja melhor esperar sentado em uma parede qualquer. Só saiba que se um dia quiser me encontrar, estarei perto de uma tal Liberdade, tentando chegar. Mas um dia chegarei, só posso te prometer isso. Chegarei! E as luzes do vagão se apagam.

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