Olhei o horóscopo - duas vezes hoje e em jornais completamente diferentes. O que diziam? A mesma coisa que leio desde os sete anos de idade, quando um parente meu- não lembro quem foi, só de sua voz- leu uma revista de bairro para mim. A pessoa então olha para um início de ser que eu era e lamenta com antecedência. Descubro então que tenho o Sol em Áries. Poxa, é um nome bonito – respondo com a inocência que talvez até hoje tenho. Mas para o parente isso não interessa, fui condenado e agora devo seguir em silêncio com esse fardo em ser ariano.
Eu então tirei a revista de bairro das mãos desse parente e fui para um canto ler o restante. Bom, ler eu ainda não sabia muito bem – só algumas palavras como: casa, amor, boneco. Eram doze imagens diferentes, doze signos que alguém algum dia disse serem diferentes. Olho cada um olho a olho e escolho um – acho que foi gêmeos ou libra. Volto para o mesmo lugar de antes e aponto a imagem da revista para o parente. Digo que quero ser aquele, tenho que ser aquele. Por alguma razão cósmica ou infantil eu devo e necessito ser aquele. Mas escolhas são coisas que um garoto de sete anos nunca vai entender a seriedade disso – nem mesmo pessoas adultas entendem, nem mesmo eu entendo ainda. O parente quase cai da cadeira em que está e diz que isso é um A-B-S-U-R-D-O. Isso-não-é-uma-coisa-a-ser-escolhida-ou- Engraçado, nem sei ao certo se isso realmente algum dia na minha vida de fato aconteceu – como isso aqui é uma crônica ela deve conter só fatos do cotidiano, mas agora já foi e cansa tentar apagar tanto erro nosso – só tenho a certeza de que um dia alguém me contou isso. Não poderia, na idade que eu tinha, inventar uma coisa dessas. O problema é que hoje é Segunda-Feira. O problema talvez não seja a Segunda em si, porque Terça também não é um dia bom e nem toda Sexta é motivo de alegria, sem contar no Domingo que não é essa maravilha toda que falam. O problema deve ser eu mesmo. Peguei uma mania terrível de ler meu horóscopo em jornais diferentes e comparar cada um, assim fica mais fácil decidir qual devo me importar- peguei esse vício graças a porcaria de um conto espetacular. Esse é o problema mesmo, nada flui naturalmente, nada anda por vontade própria. Tudo está sendo exatamente, planejado-calculado-revisado-analisado-p É demais pedir um pouco de anomalia nas coisas? Eu sei que não é, mas é muito difícil tentar ser diferente em uma Segunda, porque ela não é a primeira Segunda que enfrento e a Terça de amanhã sei que não é novidade, da mesma forma que Sábado será ensolarado e depois nublado. Falta alguma coisa que até agora não consegui perceber. Alguma coisa falta que agora até perceber não consegui. Então termino de escrever essa crônica e tomo um pouco de café, que já tem o mesmo gosto de sempre – e dá para mudar isso?. Assim que resolvido esse caso, volto a escrever. |
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Crônica de Segunda
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