segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Insatisfação Costumeira

( Mas que rotina! São as mesmas faces, as mesmas dores, as quase-nunca alegrias. Tem uma hora que cansa, não acham? )

Li em algum lugar que nós, "seres racionais" necessitamos de um estado de plena insatisfação. Ou seja, ninguém nunca é feliz para sempre - após dizer isso, arrependo-me profundamente ao ter que mudar o desfecho de muitas histórias que escrevi-, não teria emoção, suspense, filme, novela. Mas é claro que seria bom só sentir felicidade, pensei ao terminar de ler a notícia, que nem sei ao certo sua veracidade, mas mesmo sendo uma jogada sensacionalista é uma puta verdade. Mas é claro que não seria bom, respondo para a minha primeira pessoa do singular. 

O bicho homem tem a capacidade, ou acha que tem, de transformar, reproduzir , tudo aquilo que almeja em sua realidade. Até certo ponto, eu concordo. Mas pensa, sem tristeza, nossa tão e única alegria seria a vilã de tudo isso. E sem essa constante inconstante, o bicho homem trava. Isso mesmo, trava, paralisa. Não tem o combustível que gera a explosão de ânimo, de ação seguida de reação. Talvez tudo que eu tenha colocado aqui serve para explicar o que não consegui no começo de tudo, ou não sirva

Mas que rotina! São as mesmas faces dentro de um ônibus que cheira a Umbral e vampiriza meu ânimo. Tudo o que mais quero é, ao olhar para a janela cheia de caos, alguém apareça e faça dela uma tela de cinema. Quero homens de suspensórios e nariz de palhaço, mulheres fumando charuto e equilibrando cones, velhos fazendo ciranda enquanto cantam uma música do Tom Jobim, quero a arte e criatividade que pertence e é direito de cada um. Imagina que cena, um espetáculo por janela- até mesmo a senhora de saia que fica olhando feio para a minha guia de proteção ( laroye, exu! ) ia cair na festança. Pra que esperar Carnaval no sambódromo se podemos ser os protagonistas de toda essa alegria da nossa terra, que é rica e linda. É essa tua falta de alegria que apodrece o fruto e, meu caro, somos sementes desse mesmo fruto. 

Aguardo tudo isso acontecer, mas não acontece. Esfrego bem os olhos e torno a olhar para fora do ônibus. A festança é trocada por um motorista que quase atropela uma senhora que atira o guarda-chuva no meio da rua e diz que não pode morrer agora porque recebe um fiasco de aposentadoria e o que recebe o "miserável" gasta no bar com jogo e bebida e por isso continua a xingar o cara, que nesse momento nem deve estar pensando no que acabara de fazer e só quer ir para casa comer e assistir o jornal das 20:00. 

Percebo o erro grande que cometi. Foi nesse pequeno relato que percebi o verdadeiro culpado. Não é o homem que ronca do meu lado e que acorda cedo pra ir agradar a um chefe que nem ao menos sabe seu nome. A culpa não é da jovem do banco de trás que namora uma colega da escola e a mãe não sabe. A culpa é única e exclusivamente minha, por perceber que tudo anda tão errado e não faço nada para mudar. Mudar o dia dos outros para que os outros possam mudar o meu dia. E no meio desse individualismo que herdamos do berço, vivemos uma monotonia, às vezes alegre, às vezes triste, mas sempre é monótono. 
O que você fez para mudar seu dia? Escrevi esse texto para mudar o meu. Penso no texto de amanhã, mas meu acupunturista- é assim que se escreve? - disse que devo viver um dia de cada vez, novamente. E quem sou eu para discordar? 


( Talvez amanhã eu compre suspensórios e nariz de palhaço! )

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